segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Versos (muito) íntimos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma
que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos (1884 - 1914)
 

        Dedicado àqueles que já se depararam com traíras. E um brinde à vingança: doce conforto dos desapontados!

2 comentários:

  1. Ahh, Augusto dos Anjos.. Acho lindo esse poema =]

    "Escarra nessa boca que te beija"
    Não me pergunte como, nem porquê, mas acho lindo!

    É.. De fato, vingança é perda de tempo, para ambas as partes! (penso dessa maneira)

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  2. Também acho o máximo esse poema.

    Vingança, ao meu ver, traz um 'benefício'...
    Consolo - Sensação de que conseguiu concluir o que queria.

    Reconheço que não é um sentimento 'do bem', mas é bom! (Não sei se me fiz claro)

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